20 de março de 2022
No 11º aniversário da revolução síria…
Jornada Revolucionária sobre a questão ucraniana
Da resistência síria no norte de Idlib, intervenção do camarada Khero
“A barbárie significa que o trabalhador perde absolutamente todos os seus direitos (...) Por causa da traição e do HTS, não só não conseguimos realizar nenhuma das coisas que exigimos na revolução, inclusive foi estabelecido um governo igual ou pior que o de Bashar Al-Assad.”
Daremos agora a palavra ao camarada Khero, que fará uma intervenção breve. Khero é filho de "Hajj" Mustafa, um dos líderes da Brigada Leon Sedov, irmão de Abu Al Baraa, um dos maiores expoentes da Brigada, e um camarada que caiu no combate pela libertação de Aleppo.
Khero sendo um dos camaradas mais combativos da revolução síria acabou sendo vítima das prisões do HTS. Sua família sofreu muito com a opressão do HTS e do ELS. Originalmente, eles tinham sido alvo de perseguição.
Sabemos como Mustafa e Abu Al Baraa sofreram ameaças do ELS e foram colocados numa lista negra. Um dos irmãos da família de combatentes e mártires esteve preso por mais de um mês por dirigir uma motocicleta sem a documentação. Khero também foi preso por atrasar o pagamento do aluguel um mês. Isso sofrem hoje os combatentes da revolução síria, que deram suas vidas e as de suas famílias hoje transformadas em mártires!
Khero: Saudações para todos. Para mim, é uma honra poder participar.
Começo agradecendo ao camarada Steif pelo que ele disse. Honestamente, o testemunho que ele nos deu nesta reunião é preciso. Há 11 anos resistimos a todas as tropas contrarrevolucionárias que invadiram nosso país. As pessoas hoje se perguntam por que Putin está invadindo a Ucrânia. Para entender isso, você tem que ver o número de crianças e pessoas massacradas dentro da revolução síria sob suas mãos, às custas dos Estados Unidos.
Quero transmitir a vocês um testemunho do que aconteceu comigo. Há dois anos sofremos o pior dos terrores por parte do HTS, uma fração da burguesia sunita que tomou o norte da Síria. Primeiro começaram a cobrar impostos por tudo o que se fazia. Depois, pouco a pouco, reconstituíram a polícia e os tribunais. Tanto que hoje, sob as forças das armas, comandam um dos governos mais aterrorizantes do norte da Síria.
Eu estive preso. Somos 12 pessoas em uma casa muito pequena. Há 6 crianças comigo, 3 delas são filhos do meu irmão (Abu Al Baraa, NdeT), e ainda assim eles não mostraram misericórdia e me colocaram na cadeia por estar atrasado no aluguel.
A barbárie significa que o trabalhador perde absolutamente todos os seus direitos. Aqui somos trabalhadores sem direitos. Por causa da traição e do HTS, não conseguimos realizar nenhuma das demandas que exigimos na revolução, inclusive foi estabelecido um governo igual ou pior que o de Bashar Al Assad.
Depois da grande mobilização que aconteceu no 11º aniversário da revolução síria, começaram a dizer que iam abrir as frentes contra Putin. Eles estão até recrutando companheiros sírios para lutar na Ucrânia.
Para encerrar, uma pequena conclusão que tiro, que foi nossa experiência nos anos de 2015-2016, com a onda de refugiados sírios chegando à Europa. É muito bom que recebam os refugiados, embora possa nos prejudicar que recebam mais os da Ucrânia do que os da Síria. Mas entendemos que não é a solução. Receber refugiados não acaba com o problema. A classe operária não deve apenas acolher refugiados, mas também se levantar para ajudar o povo ucraniano a combater e repelir esta invasão.
É assim que deveria ter sido no ano de 2015. A classe operária europeia deveria ter se juntado à nossa luta, não ser neutra apenas recebendo refugiados, e nos ajudar a derrotar Bashar Al Assad em nosso próprio solo. Assim não haveria mais refugiados.
Nós, os revolucionários, entendemos que temos que apoiar qualquer revolução que possa ocorrer no mundo, mesmo que seja um pequeno grão de areia, mesmo que seja através da comunicação por computador, onde há uma revolução, onde há um oprimido, nós estaremos lá.
Muito obrigado pelo seu tempo. Muito obrigado por me ouvir. Saudações para todos.
Tem sido uma honra. |